Troca de experiências e atividades de lazer integram pacientes na casa de apoio (Foto: Maya Dias/Diário do Sudoeste)
Com a capacidade de atendimento para 44 pessoas, a Casa de Apoio aos Portadores de Câncer, instalada em Pato Branco, vive desde a segunda-feira (8) um dos períodos com maior número de pacientes ocupando suas dependências.Tal ocupação vem acontecendo devido aos 21 pacientes que estavam em tratamento no Hospital do Câncer de Chapecó terem sidos transferidos para o centro médico de Pato Branco, quando da interdição do hospital catarinense. Assim, a Casa de Apoio, que foi criada para atender pacientes do Sudoeste, abriga atualmente 32 pessoas em tratamento.
“Estamos com a casa lotada, o que é bem interessante não apenas para a questão de funcionamento, mas também pelo aspecto de convivência entre os pacientes”, afirmou a gerente-administrativa e voluntária do Grupo de Apoio a Mama (Gama), Adriana Klein. Ela também destacou que, em virtude dos horários de tratamento serem diferentes, a casa acaba por ter um fluxo intenso por muito tempo, o que gera novo animo até mesmo nos voluntários.
Ao se referir às mudanças ocorridas na rotina, Adriana destacou que depender ainda mais da solidariedade é a principal delas. “O que mudou é que estamos precisando de mais ajuda das pessoas. As voluntárias do Gama estão assumindo diferentes papéis diante do grupo, desempenhando atividades de apoio, como ajudar na cozinha”, disse ela. Também, em virtude do maior número de pacientes, o tempo de atendimento de fisioterapia e psicologia diminuiu para cada paciente.
Segundo a gerente, outro fator que foi desencadeado com a maior ocupação da casa é que as acompanhantes dos pacientes também estão sendo convidadas para contribuir com a manutenção da casa em atividades como a de limpeza, auxiliando o trabalho da funcionária.
“Em um primeiro momento, a população pode se perguntar o por que do atendimento dos pacientes de Santa Catarina na casa. O fato é que estamos atendendo humanamente esses pacientes que estão precisando de apoio, de um convívio familiar, fatores que não encontrariam ao estar hospedados em um hotel durante o período de tratamento”, disse Adriana, destacando que “nosso dever é auxiliar toda a pessoa portadora de câncer que nos procura”.
Mesmo com todo o gesto de generosidade da população que vem ajudando a manter a casa, Adriana enfatizou que esse é um momento de união ainda maior. “Nós precisamos ainda mais do apoio da população, seja no auxilio financeiro ou até mesmo em atos de solidariedade, vindo dedicar algum momento do dia aqui na casa”.
Convívio
As palavras solidariedade e família se fundem em meio aos corredores da Casa De Apoio e em poucos minutos elas ganham um único significado, o do convívio.
Também é interessante observar o relacionamento entre pacientes que até poucos dias não se conheciam e que agora trocam experiências e fazem das horas de descanso e recuperação um ciclo de ensinamento diário, onde não existe professor e aluno, todos são sabedores de suas limitações e suas conquistas e querem passar ao próximo um pouco do que já viveram.
“Com esse convívio, eles estão percebendo uma coisa importante, o câncer não escolhe a pessoa e a classe social para se manifestar. Não é porque tem uma qualidade de vida melhor em uma cidade com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado bom, que não tem câncer”, relatou Adriana, comentado que os novos pacientes possuem muitas histórias para contar e que “existe uma troca de energia que é muito boa para a convivência, pelo fato de esquecer, mesmo que temporariamente, a situação que cada um se encontra”.
Pacientes
Acompanhando a mãe que está em tratamento, Jocema Rosa Vizzotto Orso falou da forma que foi acolhida em Pato Branco. “Ela está correspondendo muito bem ao tratamento e o acolhimento que tivemos aqui foi muito bom. Com certeza contribui para a melhora dela”, disse, pouco antes de ajudar a arrumar o buffet para o almoço dos hóspedes da casa.
Em meio a seu tratamento, a jovem Ana Patricia Paiana, de Xaxim, relatou sua experiência na luta contra o câncer. “Fiz todas as quimioterapias em Chapecó e agora estou em Pato Branco fazendo as radioterapias”, disse ela, sem se importar em relatar como foi a notícia de troca de hospital. “Foi bastante ruim saber que o hospital está fechado mesmo que temporariamente. É complicado principalmente por lá eu estar próxima aos amigos, famílias, não ter que ficar longe de sala de aula. Por causa do tratamento, no ano passado já perdi um ano na escola e agora será mais um mês”, afirmou ela, descrevendo com ternura o carinho recebido na casa. “Aqui estou bem a vontade, todos buscam ser amigáveis, o que gera um laço afetivo”.
Rotina hospitalar
Se a Casa de Apoio está quase que com sua capacidade máxima de atendimento, outro ponto da cidade vem recebendo maior movimentação de pacientes.
No entanto, segundo o coordenador Técnico do Hospital do Câncer, Gilmar Biscaia, o atendimento somente teve que ser otimizado. “A vinda de mais pacientes não alterou a rotina hospitalar, o que aconteceu foi uma maior otimização do espaço e do serviço oferecido. Sem contarmos esses pacientes novos, temos uma estrutura completa e uma população que não cobre 50% da capacidade de atendimento. Nesse período, estamos atendendo em dois turnos para as sessões de radioterapia e um para as quimioterapias”, afirmou o médico.
Conforme Biscaia, um dos fatores que contribuiu para que esses novos pacientes fossem tratados aqui foi o fato do hospital já atender pacientes do oeste catarinense. “É importante destacarmos que é um Estado transferindo seus pacientes para outra unidade. Podemos dizer que um dos motivos que possibilitou essa transferência foi o fato de já termos em nosso histórico o atendimento de pacientes do oeste de Santa Catarina”, concluiu.
Entrevista: Marcilei Rossi
Matéria veiculada no Jornal Diário do Sudoeste dia 17 de abril de 2013